Era uma vez uma Gaivota…

À minha frente, o rio corria apressado em direcção à boca do mar que o engolia. As bolhas espumosas saltavam, espalhando um cheiro agradável, uma fragrância adocicada e salgada. Por detrás, erguiam-se majestosas as montanhas, enormes e cobertas de árvores, derramando o seu verde fulgurante sobre o azul do mar.
O vento dançava ao acaso. Vinha dali ou vinha de outro lado, parecendo festejar o encontro entre a água salobra e a água marítima.
Tudo exalava purificação. Oferecia-me um bem-estar interior, a sensação de estar deitada em cima de um arco-íris. Depois de contemplar este ambiente, pus-me a beber rios de palavras de um livro, com um sorriso sereno estampado no coração.
De súbito, no meu lado direito, um estranho vulto aterrou sobre a areia fina e acastanhada. Senti-o pelo canto do olho. O seu movimento invulgar e insistente perturbou a minha leitura e fez-me levantar os olhos até atingi-lo.
Era uma gaivota! Encontrava-se tão próxima, a menos de 2 metros. Até se conseguiam ver os pormenores das penas.
Fiquei imóvel, não me atrevendo a mexer um único músculo, observando-a deslumbrada. Era tão branca como a cor de algodão, tinha uma postura digna de uma ave independente. A natureza esculpiu-a com perfeição! Deixei-me ficar assim, em transe, durante um tempo, gravando docemente aquela imagem, até que me sobressaltei com o toque de um dedo sobre o meu braço esquerdo, como se tivesse sido tocada ao de leve pela queda de uma minúscula pena.
Virei-me lentamente para não assustar a gaivota. Os meus olhos encontraram com os da minha amiga. Não foram precisas palavras. Também ela estava encantada com esta magnífica visitante.
O tempo passou. Tínhamos agora de nos mexer, de respirar com o ruído, uma vez que já nos começávamos a sentir paralisadas de a fitar tanto.
Pus-me a sussurrar à minha amiga:
- Esta gaivota é tão corajosa para estar ao pé de nós.
Ela assentiu ao meu comentário. Voltámos a olhá-la. A gaivota estava a observar-nos alerta mas não se esquivou ao mínimo som da minha voz. Fiquei espantada, arqueando o meu sobrolho grosso, quase o meu queixo tocava o meu pescoço de tão caído estava! R. também se apercebeu do estranho comportamento. A ave não tinha aspecto adoentado. Não coxeava. As asas estavam em excelentes condições, fortemente lisas e correctamente arrumadas nos seus sítios.
Começámos a pensar. Será que…?
Os lábios de R. estreitaram-se num apertado círculo, soprando dióxido de carbono. Deste modo, apercebi-me de que estava a assobiar. Um bombástico som capaz de atemorizar qualquer animal. Fiquei suspensa, quase encolhida, um pouco receosa ante a perspectiva de a assustar.
A gaivota continuou ali como se nada fosse!
Olhei para aqueles olhos pretos. Tão pequeninos, mas bem abertos. Ávidos e perspicazes. Foi então que reparei que havia algo diferente nela. Mexia excessivamente a cabeça, para um lado e para o outro, e também para trás, repetidas vezes.
Falei alto, completamente exaltada, com esta inesperada descoberta:
- A gaivota é surda!
O que fazia ali sozinha? Encontrava-se distante de uma multidão de gaivotas que sobrevoava freneticamente, fazendo piruetas, por cima da Foz. Estava excluída da comunidade. Abandonada ou ignorada, sem outra gaivota para companhia.
Perante esta verdade, o meu interior jorrou em gotas de água. As lágrimas silenciosas de dor. A gaivota era um reflexo de mim própria!
(Esta gaivota era jovem, sabia-o pela cor do seu bico, era preto. Passou quase um ano desde que a encontrei. Será que agora é uma esplêndida gaivota? Será que já encontrou companhia? Como gostava de saber…)
28 Comments:
FINALMENTE "Ca" moça voltou!!!
Mas que foto tão linda :-P
Que SSSSAAAAAUUUUUDDDDAAADDDDEEESSSS !!!!!!!!
Passava sempre por aqui para te procurar ...
Voltaste e de que maneira ... com este magnífico texto cheio de emoções e carregado pelo valor dos sentidos ...
Gosto muito da pessoa que és e que transparece na forma sublime como te expressas ... :)
Se fores não vás tanto tempo ... promete-nos !!!!
Quanto à gaivota ... estou certa que arranjou companhia sim ... por vezes é só uma questão de esperar pelo momento certo !!
Um beijo encaracolado em saudade ... :))
FINALMENTE voltaste!
Minha querida SilenceBox tive tantas mas mesmo tantas saudades de ler os teus fragmentos poéticos!
Mais um texto maravilhoso, como tu bem o sabes palpitar as nuanches coloridas e perdi-me nas lágrimas de cada palavra.
SAUDADES tuas, SAUDADES dos teus relatos e SAUDADES de falar ctg!
carinhosamente Memorex, um abraço grandioso e espero q estejas bem melhor :)
Beijos e boa semana.
Gostei de te ler ... depois de tanto tempo.
Espero que esteja tudo bem contigo. Venho pedir-te desculpas pela minha ausência ... que vai continuar ... amanhã vou de férias ... e só estarei de regresso no dia 16.
Beijinhos
O CUMPLICIDADES já está à venda nos meus blogs.
Olá querida,
como senti a falta dos teus escritos! Mas voltaste com garra, mais um post magnifico, a imagem, o sitio, tudo... Será que encontrou??? Tudo é possível... Amei deveras.. Bjhs e boa semana
E quantas vezes nao desejamos nos, em silencio, poder ser essa gaivota destemida cujo mundo encantado ninguem corrompe???
Gostei imenso do texto... muito fluido,envolvente... doce com sabor a por do sol e a maresia... Gostei MM! Beijo***
(acabei por n resistir e li mais uns textinhos... desde ja... MUITOS PARABENS! Escreves mt MT bem! Qd for "grande" quero ser um bocadinho cmo tu!)
Minha querida
Que história linda, aqui contaste. Comovidamente a li...
Essa "Gaivota" por certo arranjou companhia - tenho a certeza!
Beijinhos
passei por aqui novamente :)
Beijos e bom fim de semana
ola. um texto lindissimo que marca positivamente o teu regresso.
beijinhos da leonoreta
depois de tanto silencio enfim vc grita para nós!!!
[jb]
Beijos e bom feriado
queria ler-te de novo,
gostava de saber bailar como uma gaivota...
é sempre belo e lindíssimo o que escreves
um beijo meu
lena
Voltaste e com um belo texto!
Colocas sentimentos, emoções em tudo o que escreves e sinto isso ao ler-te.
Acredito que a gaivota tenha arranjado companhia:)
beijos e não te ausentes por tanto tempo*
Bem-vinda de novo ao nosso convívio.
E que maravilha de texto.
Bjs.
Belo texto!
Bjs
Olá Silencebox!
Um lindissimo post.
Muito descritivo.
Espero por mais leituras tão interessantes como esta.
Um beijinho
M.M.
Não são raras as vezes que queremos voltar a ter notícias de alguém que aterrou na nossa vida como um relâmpago, e depois foi com a brisa do vento voar para outras paragens...
Saudades tuas! Voltaste e com uma comovente história. Decerto a gaivota encontrou quem a acompanhasse. :)
Beijinhos
Passei para te deixar um beijinho (já) de saudade e te dizer que deves realmente ser uma pessoa muito especial ... pelas palavras que sempre me dedicas !!!!
Beijoca encaracolada :)
Um texto lindo!!! Parabéns!!!
Qto à gaivota... concerteza que é feliz e partilha uma prole de gaivotinhas com outro belo exemplar da espécie.
Gostei.
Beijinhos
Fernanda
Minha querida
Passei para te deixar uma flor
Um :))
e
Muitos beijinhos
BomFsemana
PORTUGAL! PORTUGAL!
VIVAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
FORÇAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
A CAMINHO DA FINAL!
;)
Beijos
Olá!! Tudo bem?
Vim dizer que tive muitas saudades de ler o teu blog.. e ver se é desta que fico definitivamente. :) Beijocas!!
bela história, escreves muito bem!
Há tanto tempo que aqui não vinha! Que bom foi ter-te na minha casa e saber-te de novo amiga da tua escrita com quem mais parecia teres-te zangado :-)
Que bonita esta tua história e esta tua gaivota/menina/rapariga/senhora!
E agora vou por aí acima à procura de mais.
Um beijo.
Pleno de sensibilidade.
Deixa um travozinho bom.
Foi a 1ª coisa que te li.
Voltarei! :-)
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