A Leitura Labial em Espectro

Os seus fios projectam imagens como cenas de um documentário, mostrando uma variedade de bocas e, todas elas são diferentes umas das outras, diferentes como são desenhadas as feições das pessoas. Os lábios, que pronunciam uma idêntica palavra, movem-se contraditórios e, por vezes, surpreendentes. Cerrados, abertos, tortos, complicados, agressivos, doces, molhados, secos… Os dentes são grandes ou pequenos, inclinados ou direitos. As línguas são mais ou menos rosadas e flexíveis. É em conjunto que se reproduz uma mensagem oral em carne viva.
A aprendizagem da leitura não se completa de um dia para outro, mas sim com o divagar do tempo. É necessário estudar tudo o que constitui aquela boca e como esta se espreme e se transforma ao articular as sílabas. Ninguém lhe ensina, ela é que se aprende por si sozinha, com treino diário e persistência.
A leitura labial só amadurece saudável numa estreita relação de comunicação onde reflecte luz de paciência e cores de afecto. Mesmo assim, apresentará sempre algumas mas pequenas dificuldades o que implica as repetições orais.
Os pesadelos da leitura labial são as bocas de ventríloquo e as palavras sósias. O que são estas palavras?
Ponham-se em frente do espelho e observem os vossos lábios reflectidos. Evitem as cordas vocais e mexam apenas os lábios: bata/pata /mata; chá/já. Viram a diferença? São palavras em que as ondulações labiais são gémeas. Há nelas veneno…
Imaginem, uma frase que é um muro construído por pedras enormes. Se uma destas pedras tiver uma forma geometricamente errada (por exemplo, uma forma de pirâmide em vez de cubo), o muro desequilibra-se e desfaz-se em bocados. Deixa de ser um muro correcto. As palavras sósias transmitem uma mensagem errada, dão um sentido errado ao contexto. Isto é usual e frequente acontecer.