quarta-feira, dezembro 14, 2005

A Invasão das Melgas

Numa noite, já bastante longínqua, estávamos todos a jantar ao ar livre, sob um céu pintalgado de estrelas. O cheiro das árvores e da terra aderia aos nossos corpos, assim todos exalávamos a essência da Natureza.

As nossas tendas pousavam no solo, ondulando-se ao sabor da brisa.

Os meus colegas, sentados ao longo de uma mesa rectangular, estavam envoltos no manto negro da noite, parecendo monges encapuçados. Deles se visualizava, apenas, a saliência das testas e os olhos vidrados, iluminados pelo luar.

Pelo arranhar de vozes nos meus ouvidos, os colegas conversavam. E eu, como não conseguia ver os seus lábios, tão escuros estavam, passei simplesmente a conversar com a minha comida, mastigando e engolindo.

Um colega, já de barriga cheia e satisfeito, pôs-se a falar comigo.

- Desculpa, mas não estou a perceber. Não vejo a boca!

Levantou a mão fazendo-me um sinal para eu esperar. Correu para um sítio e voltou com uma lanterna. Projectou, então, os focos luminosos aos seus lábios.

- Agora vês a minha boca?

- Sim. O que querias dizer-me?

Em poucos segundos, surgiu um furacão de melgas, atraídas pela luz projectada, expandindo desde a boca da lanterna aos lábios do colega. Ele, enquanto falava, teve de cuspir várias vezes para evitar engoli-las, até que…

-Aiiiiiiii………

Uivou, todo contorcido, de dor à imensidão dos montes imponentes, gritando aos saltos, gemendo aflito, até parecia que se estava a transformar num ser hediondo, como uma cena saída de um filme de terror!

Uma melga tinha aterrado acidentalmente no seu olho esquerdo! Numa tentativa de libertar-se das pestanas, fez algo que o magoou! O olho ficou vermelhíssimo, com veias raiadas de sangue, e inchado.

Como me senti? Enterrei-me no grito da vergonha e, também, da culpa! Após o sucedido, ninguém falou comigo...

Nunca mais me esqueci deste episódio que se ferrou bem dentro de mim como um casco de um cavalo, tinha eu 19 anos.

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Já estava com saudades de ver-te escrever, e logo agora com uma memoria inesquecível de uma parte da tua vida.
As melgaas, nem se falam delas picam-nos todas sem dó e piedade.
Bjokas larocas e abraços especiais para ti SilenceBox.

P.S-> Tens 1 email meu q está a espera que o abras

10:53 da manhã  
Blogger Isabel Filipe said...

um episódio que não deixa de ter a sua graça...

rsss...
humor negro...

beijinho

11:09 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Slencebox, quero desejar-te FELIZ NATAL e BOM ANO NOVO!!!

(no meu multiply - http://andreiazinha.multiply.com, há um cartão para todos os amigos...)

Beijinhos da Andreia.

12:04 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá SilenceBox,estás boa?
Vim desejar-te um Natal em harmonia e Feliz Ano Novo de 2006...
Espero que tenhas mais presentes do que no ano passado...e que sejas feliz com a tua família e o teu amor!
Muitos beijinhos da Carolina =)

12:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Foi uma situação chata na medida em que te sentiste culpada. No entanto, não deixou de ser uma situação engraçada....(as melgas são sempre chatas...)lol.
O texto está girissimo!!
Muitos beijinhos e um Natal mt Feliz!!!
Leo.

12:18 da tarde  
Blogger Carla said...

Um texto muito bem escrito, uma situação muito caricata... foquei-me essencialmente no gesto do colega que apesar de estar a ser atacado pelas melgas manteve sempre a tentativa de dialogo.
Ah menino presistente!

Bjx

11:39 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

:S:S:S:S k situação :(:(:(

10:41 da tarde  

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