Tempos Perdidos
Encontrava-me integrada numa turma de ouvintes, sendo a única Surda Profunda como uma poeira insolúvel num líquido ouvinte.
As horas, que eu por ali passei, enfiada nas quatro paredes nuas da Sala, sentada nas frias cadeiras com os cotovelos pousados sobre as pálidas mesas, eram horas paradas e monótonas. Horas perdidas e sem histórias!
Os professores, de todas as disciplinas, falavam com enorme velocidade, e assim todas as suas palavras escapavam aos meus olhos. Só eu via as suas bocas deslocadas, os estalos da língua, os dentes quer brancos quer pretos, os contornos dos lábios pintados ou naturais. Aqueles lábios em murmúrios indecifráveis e engolidos.
O meu sumário diário, naquelas aulas, era somente: Viagem nos ponteiros do relógio. Entrada no espaço perdido e oco.
Eu, apenas, registava o que os professores escreviam no quadro mas, o que eles escreviam, era escasso. Havia imensos buracos de informação!
Os ponteiros foram meus professores e colegas, eles assinalavam cada segundo, cada minuto e cada hora, diziam quanto faltavam para acabar a aula, insistiam para que eu me aguentasse e que não podia desistir!
Quando terminava o dia escolar, o meu alívio explodia em lágrimas! Um dia já está, outro dia também… Era um sentimento de triunfo! Mas não tinha tempo para mim...
Cada vez que o fio de escola acabava, começava outro fio que continuava nas explicações extras e nos estudos intensivos...